Nossos olhos abertos como nunca antes

2019 | 60 pág | capa em tecido | costurado | miolo colorido

fotografias Tuane Eggers

texto Chana de Moura

desenho gráfico Dani Eizirik

diagramação Dani Eizirik e Rodrigo Brod

impresso no Porto/Portugal
costura 
Oficina Carvalho & Ana

ISBN 978-85-920303-5-3

 

 


 

“Das terras onde nascem as águas e conspiram as montanhas, lembro de pequenos cristais de gelo sobre as plantas. Lembro de sentir meus pés pisando sobre um musgo úmido e grosso, que revestia tudo ao nosso redor. Lembro de um frio que cortava nossas faces, marcando fortemente nossas linhas de expressão, como cicatrizes momentâneas geradas pela dificuldade de estar ali, sob a hostil escassez de ar para respirar.  Sobretudo, lembro de você e de Daniel ao meu lado: extensões sagradas de mim.”

 


 

“Hoje faz quase um ano que partimos: nossos corpos ainda reverberam muitas memórias orgânicas, que não são lineares e precisam constantemente se reorganizar.  Vasculhando arquivos, me encontro diante de uma fotografia sua na qual figuro como miniatura na paisagem. Fico imaginando nossos pequeninos pés de gente, pisando leve um quase não pisar, fazendo cócegas ao deslizar sobre os grandiosos corpos daquelas montanhas geladas.”

[…]


 

Todas as fotografias desta publicação existem fisicamente em sua essência: imagens gravadas na retina de negativos 35mm, abertas ao acaso e suscetíveis à beleza do desastre. Durante a viagem, parte dos filmes foi inundada após uma falta de água noturna, algo comum na região andina, e teve sua existência lindamente contaminada por fungos antes do momento da revelação. Como disse o filósofo Emanuele Coccia, “o mundo é um contágio perpétuo”.